A viagem
Eu vivia com minha família em uma
cidade perto do mar.
Durante o verão, costumávamos ir à
praia. Mas nunca fomos lá, pois no ano passado, nossas vidas mudaram para
sempre...
A guerra começou.
Todos os dias, coisas ruins
aconteciam à nossa volta e, em pouco tempo, não havia mais nada além do caos.
Até que a guerra levou meu pai.
Desde então, tudo se tornou mais
sombrio, e minha mãe ficou ainda mais preocupada.
Certo dia, uma das amigas da minha
mãe contou que muitas pessoas estavam partindo. Elas estavam tentando fugir
para outro país. Um país muito distante com grandes montanhas.
-O que é esse lugar?-perguntamos
para a mamãe.
-É um lugar escuro- ela disse.
-E onde fica?- perguntamos de novo.
Ela nos mostrou imagens de cidades estranhas,
florestas estranhas e animais estranhos.
Finalmente, suspirou
e disse: “ Vamos para lá e nunca mais voltaremos a sentir medo.”
Não queríamos partir, mas a mamãe
explicou que seria uma grande aventura.
Colocamos tudo o que tínhamos nas
malas e nos despedimos de todos.
Saímos à noite para que ninguém nos
visse e viajamos por muitos dias.
Quanto mais nos distanciávamos mais as coisas iam
ficando para trás.
Finalmente, chegamos na fronteira.
Tinha um muro enorme. Era preciso escalá-lo!
Mas, oh, não!
-Vocês não têm permissão para cruzar a fronteira.
Voltem!-gritou um guarda zangado.
Não tínhamos para onde ir e estávamos muito cansados.
Naquela escuridão, os barulhos da floresta me
assustavam mas estávamos com a mamãe e
ela nunca ficava assustada. Fechamos os olhos e, enfim, dormimos.
De repente, gritos nos despertaram.
Eram os guardas! Eles estavam à nossa procura.
Devíamos nos esconder.
-Rápido. Por aqui - a mamãe falou baixinho.
Corremos e corremos até que surgiu um homem que nunca
tínhamos visto antes. O homem disse que nos ajudaria.
A mamãe deu a ele algum dinheiro, e ele nos colocou do
outro lado da fronteira. Estava escuro. Não fomos vistos.
-Nossa viagem ainda não acabou – explicou a mamãe.
O mar imenso se estendia à nossa frente.
Precisávamos atravessá-lo. Mas como?
Embarcamos em um bote cheio de gente! Era muito
apertado e chovia todos os dias, mas contávamos histórias uns aos outros.
Contos sobre terríveis e perigosos monstros que se
escondiam no fundo do mar, prontos para nos devorar se o bote virasse!
O barquinho chacoalhava bastante à medida que as ondas
cresciam mais e mais. Parecia que o mar não tinha fim.
Contávamos novas histórias. Histórias sobre a terra
que nos esperava, onde havia imensas florestas verdejantes, cheias de fadas
gentis que dançavam e nos brindavam com palavras mágicas para acabar com a
guerra.
Então o sol nasceu e avistamos terra pela primeira vez
em dias.
O bote balançava rumo à costa.
A mamãe disse que tínhamos muita sorte por ainda estarmos
juntos.
-É este o lugar onde vamos ficar seguros?
–perguntamos.
-Estamos chegando - ela respondeu.
Viajamos mais dias e mais noites, cruzando muitas
fronteiras.
Do trem, eu via pássaros que pareciam nos seguir...
Eram migrantes como nós. E a viagem deles era tão
longa quanto a nossa. Só que os pássaros podiam cruzar qualquer fronteira.
Espero, um dia, como esses pássaros, que consigamos
encontrar um novo lar.
Um lar onde possamos ficar seguros e recomeçar a nossa
história.
Autora: Francesca Sanna