O príncipe sem sonhos
Thiago era um príncipe sem sonhos. Pelo menos ele
dizia isso. Passava o dia triste, porque já tinha tudo. E, se já tinha tudo,
como poderia sonhar?
Às vezes, ele até tentava. Mas nem dava tempo.
Mal o príncipe começava a sonhar, e pronto: os seus
desejos se realizavam. Não chegavam nem a se tornar um sonho de verdade,
daqueles que a gente cultiva com todo o cuidado, como uma semente preciosa, num
jardim secreto, só nosso.
Preocupados com a tristeza do filho, a rainha e o
rei faziam de tudo para vê-lo feliz. Porque eram muito amorosos e não entendiam
o porquê desse sofrimento.
Thiago realmente tinha tudo o que se pode imaginar:
uma criação particular de unicórnios, dragões de estimação, fábricas de
chicletes mágicos, tapetes voadores com piloto automático, amigos que gostavam
dele, súditos que o serviam sem raiva, heranças e mais heranças.
Com o que Thiago poderia sonhar?
Com uma princesa dessas de contos de fadas?
Não, sinceramente não.
Thiago ainda não tinha tempo para princesas.
De jeito nenhum ele deixaria o futebol com a galera
e as bolas de gude para ficar com uma princesa.
Não era esse o seu sonho.
Na realidade, ele não sabia qual era o seu sonho.
Se é que tinha algum.
E isso o deixava realmente triste.
Por mais que se esforçasse, não conseguia ver nada
para sonhar.
E se não conseguia ver nenhum sonho, era porque não
existia.
Será?
Ele não sabia responder.
Certo dia, exausto de tanto tentar sonhar, o
príncipe resolveu pedir um conselho ao seu avô, um bruxo aposentado, que vivia
longe das badalações do castelo. Fazia tempo que eles não se viam.
Foi um abraço tão longo e tão grande que dava para
cobrir todo o reino.
— Vô, eu preciso sonhar com alguma coisa. Todos os
meus amigos têm sonhos. Eu não tenho nenhum.
— Como você tem certeza disso?
— Por mais que eu tente, não consigo ver nenhum
sonho que seja só meu. E, se não vejo nenhum, é porque eles não existem. Tô
certo?
Sem dar uma palavra, o avô pegou Thiago pela mão,
foi com ele até à varanda. Lá, havia um sofá mais macio que pele de bebê. Eles
sentaram e respiraram juntos o cheiro de uma chuva que se aproximava.
Naquele instante, o tempo estava com cara de cofre,
fechado a sete nuvens. Abertos só estavam o sorriso do avô e o coração ansioso
do príncipe.
— Thiago, dê uma olhada neste céu estrelado. Não é
maravilhoso? — perguntou o avô, com ar de provocação.
— Vô, acho que você tá precisando mudar o grau dos
óculos. Não tem nenhuma estrela no céu.
Com o mesmo sorriso escancarado, o avô apontou para
o céu e disse a Thiago:
— Meu querido, o céu está estrelado sim. Você é que
não está vendo as estrelas. Esse é um antigo provérbio árabe: “Não diga que o
céu está sem estrelas só porque às vezes você não as enxerga…”
Sem tirar os olhos do céu, no colo mais
aconchegante do mundo, Thiago escutava o avô completar aquele pensamento:
— Seus sonhos são como as estrelas, menino. Eles
estão aí, mesmo que você não consiga ver nenhum. Mesmo que as nuvens os
escondam, eles estão aí. Preste atenção: você já tem tudo o que quer. Mas ainda
não é tudo o que pode ser. Um dia você vai saber a diferença entre ter e ser.
Não se preocupe com isso agora…
Ah, essa era uma conversa para dias e dias.
Qual a diferença entre ter e ser? Thiago ainda não
sabia. Já era tarde demais para raciocinar sobre uma coisa dessas.
O sono chegava a galope e Thiago adormeceu, com um
sorriso diferente, sereno.
Será que ele estava finalmente sonhando?
Só saberia quando acordasse.
— Afinal, menino, os melhores sonhos são aqueles
que continuam de outro jeito, quando a gente desperta — disse o avô, bem
baixinho, já quase apagando também.
Márcio VassalloO príncipe sem sonhos
Adorei!!!
ResponderExcluirLinda história, não é?? Bj grande
ExcluirEu achei que o texto foi bastante legal.
ResponderExcluirMas eu acho que também é um pouquinho confuso .
Fernanda,aonde vc acha esses textos??? , vc que escreve???������
Eu li esse livro para vcs na biblioteca, Joana.Você não lembra?
ExcluirO autor é o Marcio Vassalo.
Bj e bom estudo.
Eu acho que eu e Joana faltamos no dia .
ExcluirE agora eu boto o meu nome tá???
Obrigada não eu não lembro
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