O Dono da Bola
Ruth Rocha
Este é o Caloca. Ele é um amigo muito legal.
Mas ele não foi sempre assim, não. Antigamente ele era o menino mais enjoado de
toda a rua. E não se chamava Caloca. O nome era Carlos Alberto.
E sabem por que ele era assim enjoado?
Eu não tenho
certeza, mas acho que é porque ele era o dono da bola.
Mas me deixem contar a história, do
começo.
Caloca morava na casa mais bonita da
nossa rua. Os brinquedos que Caloca tinha vocês não podem imaginar! Até um trem
elétrico ele ganhou do avô.
E tinha bicicleta, com farol e buzina, e tinha
tenda de índio, carrinhos de todos os tamanhos e uma bola de futebol, de
verdade. Caloca só não tinha amigos. Porque ele brigava com todo mundo. Não
deixava ninguém brincar com os brinquedos dele. Mas futebol ele tinha que jogar
com a gente, porque futebol não se pode jogar sozinho.
O nosso time estava cheio de amigos.
O que nós não tínhamos era bola de futebol. Só bola de meia, mas não é a mesma
coisa. Bom mesmo é bola de couro, como a do Caloca.
Mas, toda vez que a gente ia jogar com Caloca,
acontecia a mesma coisa. Era só o juiz marcar qualquer falta do Caloca que ele
gritava logo:
– Assim eu não jogo mais! Dá aqui a minha
bola!
E quando não se fazia o que ele queria, já se
sabe, levava a bola embora e adeus treino.
– Esta reunião é pra resolver o caso do Carlos
Alberto. Cada vez que ele se zanga, carrega a bola e acaba com o treino. Carlos Alberto pulou, vermelhinho de raiva:
– A bola é minha, eu carrego quantas vezes eu
quiser!
E Caloca saiu pisando duro, com a bola debaixo
do braço.
Todas as vezes que Carlos Alberto fazia isso,
ele acabava voltando e dando um jeito de entrar no time de novo. Mas, daquela
vez, nós estávamos por aqui com ele. A primeira vez que ele veio ver os
treinos, ninguém ligou.
Um dia, nós ouvimos dizer que o Carlos Alberto
estava jogando no time do Faz-de-Conta, que é um time lá da rua de cima. Mas
foi por pouco tempo. A primeira vez que ele quis carregar a bola no melhor do
jogo, como fazia conosco, se deu muito mal… O time inteiro do Faz-de-Conta
correu atrás dele e ele só não apanhou porque se escondeu na casa do Batata.
Aí, o Carlos Alberto resolveu jogar bola
sozinho. A gente passava pela casa dele e via. Ele batia bola com a parede.
Acho que a parede era o único amigo que ele tinha. Mas eu acho que jogar com a
parede não deve ser muito divertido. Porque, depois de três dias, o Carlos
Alberto não aguentou mais. Apareceu lá no campinho.
E Carlos Alberto continuou sozinho. Mas eu
acho que ele já não estava gostando de estar sempre sozinho.
No domingo, ele convidou o Xereta
para brincar com o trem elétrico.
Na
segunda, levou o Beto para ver os peixes na casa dele.
Na terça, me chamou para brincar de índio.
E, na quarta, mais ou menos no meio do treino,
lá veio ele com a bola debaixo do braço.
– Oi, turma, que tal jogar com uma bola de
verdade?
Nós estávamos loucos para jogar com a bola
dele. Mas não podíamos dar o braço a torcer. – Olha, Carlos Alberto, você
apareça em outra hora. Agora, nós precisamos treinar — disse o Catapimba.
– Mas eu quero dar a bola ao time. De verdade!
Nós todos estávamos espantados:
Os treinos recomeçaram animadíssimos. O final
do campeonato estava chegando e nós precisávamos recuperar o tempo perdido.
Carlos Alberto estava outro. Jogava direitinho e não criava caso com ninguém.
E,
quando nós ganhamos o jogo final do campeonato, todo mundo se abraçou.
A gente
gritava:
– Viva o Estrela-d’Alva Futebol Clube!
Então, o Carlos Alberto gritou:
– Ei, pessoal, não me chamem de Carlos
Alberto! Podem me chamar de Caloca!
(Texto adaptado do livro Marcelo,
Marmelo, Martelo)
Reconte essa história usando as usas palavras.
Coloque a letra maiúscula no início das frases e nos substantivos próprios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário