O susto dos Coleirinhos
A chuva não
parava. Isso preocupava a passarinhada. O passarinho novo, que havia nascido no
ninho, bem perto da janela da casa da Fazenda, estava em perigo. Os pais
Coleirinhos tinham decidido fazer o ninho naquela árvore. Foi um erro, A árvore
era bonita, florida, mas era pequena. Na verdade, era um arbusto. Arbustos não
crescem muito. Aquele seria sempre mais ou menos pequeno.
Foi lá que
os Coleirinhos acabaram fazendo o ninho. O filhote nasceu, bem bonitinho apesar
da falta de penas. Isso é comum, Passarinho nasce pelado, que nem gente. As
poucas folhas do arbusto mal escondiam o precioso, e os pais estavam
assustados.
Tudo piorou
naquela manhã. Os Coleirinhos saíram em busca de comida e quando voltaram
levaram o maior susto: cadê o filhote?
Procuraram, procuraram...Só depois de muito tempo, ele foi encontrado.
NO CHÃO! Ele tinha caído do ninho!
- O que
fazer? Ele vai morrer? – perguntou aflita a Mãe Coleirinha.
- Calma!
Todo passarinho tem que sair do ninho. – disse o Pai.
- Certo, mas
primeiro tem que aprender a voar. Ele é muito pequeno , nem tem penas.
O
Sabiá-laranjeira , de perto , observava tudo. O Sabiá era sábio. Dava conselhos
a todo mundo.
-Isso é para lembrar aos pais, e a toda a
passarada, que têm acontecido muitos desastres aqui na Fazenda Brejo Novo. É
preciso cuidado.- falou.
- Mas,
afinal, foi a ventania forte ou a arte do pequeno que queria voar antes da
hora? – perguntou a mãe.
Ninguém
sabia, nem o Sabiá. Só sabiam que ele estava no chão correndo risco. Se
continuasse chovendo, afundaria na poça d’água. Se parasse de chover, algum
animal grande poderia pegá-lo. A Mãe Coleirinha, debruçada na beirada do ninho,
olhava inconsolável o filhote.
-Só comigo,
só comigo acontecem essas coisas. Meu único filho agora periga morrer.
O filhote
continuava no chão, ainda sem saber voar. Os pais não tinham ideia de como
trazê-lo de volta ao ninho. E a chuva aumentava mais a poça.
-Ele vai se
afogar? – Se apavorava a Coleirinha.
-Não sei,
mas o Sabiá sabe. Pergunte a ele, sugeriu o Pai.
O Sabiá não
tinha resposta e ainda deu uma bronca no casal.
- Por que
vocês fizeram o ninho no lugar errado?
-Os pássaros
mais velhos ocuparam os melhores pontos. Há poucas árvores nesse mundo. Sabia,
sabiá?- respondeu o Coleirinho.
De repente
eles ouviram um barulho assim: Chlap! Chlap! Chlap!
-Meu Deus! E
agora? - perguntou a Coleirinha.
Era barulho
de gente pisando nas poças d’água. Cada vez mais alto e mais perto: Chlap!
Chlap! Chlap!
A pessoa
chegou e devagarzinho se aproximou da árvore. Abaixou-se e estendeu uma
daquelas asas enormes que as pessoas têm, mas que não servem para voar. Abriu
as garras que ficam na pontas das asas e ...CRÉU!
Pegou o
filhote.
A Mãe
Coleirinha desmaiou. O Pai começou a gritar. O pequeno deles agora estava lá,
nas garras da pessoa. Mas, ao contrário do que imaginavam, o filhote foi
colocado delicadamente no ninho. O Coleirinho não sabia como agradecer.
Começou, então, a cantar uma música muito bonita, mas a pessoa foi embora sem
entender que aquele canto todo queria dizer obrigado.
A Saíra - dourada,
vizinha que acompanhava todo o drama deu também sua bronca.
-Este ninho
perto da janela é um perigo!
-Eu não
achei lugar melhor- se defendeu a Coleirinha.
-Qualquer
morador que chegue à janela consegue ver seu filhote. Gente pega passarinho!
-Tem gente
boa nessa vida. Olha essa que salvou meu filhotinho.
-Uma em mil.
Uma em mil! Eu sou vítima e sei. Eles adoram trancar meus parentes em gaiolas-
disse a Saíra.
Fragmento o primeiro capítulo do
livro “A vida perigosa dos passarinhos pequenos” de Míriam Leitão
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