quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Texto da avaliação de síntese de LP


O susto dos Coleirinhos

            A chuva não parava. Isso preocupava a passarinhada. O passarinho novo, que havia nascido no ninho, bem perto da janela da casa da Fazenda, estava em perigo. Os pais Coleirinhos tinham decidido fazer o ninho naquela árvore. Foi um erro, A árvore era bonita, florida, mas era pequena. Na verdade, era um arbusto. Arbustos não crescem muito. Aquele seria sempre mais ou menos pequeno.
            Foi lá que os Coleirinhos acabaram fazendo o ninho. O filhote nasceu, bem bonitinho apesar da falta de penas. Isso é comum, Passarinho nasce pelado, que nem gente. As poucas folhas do arbusto mal escondiam o precioso, e os pais estavam assustados.
            Tudo piorou naquela manhã. Os Coleirinhos saíram em busca de comida e quando voltaram levaram o maior susto: cadê o filhote?  Procuraram, procuraram...Só depois de muito tempo, ele foi encontrado. NO CHÃO! Ele tinha caído do ninho!
            - O que fazer? Ele vai morrer? – perguntou aflita a Mãe Coleirinha.
            - Calma! Todo passarinho tem que sair do ninho. – disse o Pai.
            - Certo, mas primeiro tem que aprender a voar. Ele é muito pequeno , nem tem penas.
            O Sabiá-laranjeira , de perto , observava tudo. O Sabiá era sábio. Dava conselhos a todo mundo.
            -Isso   é para lembrar aos pais, e a toda a passarada, que têm acontecido muitos desastres aqui na Fazenda Brejo Novo. É preciso cuidado.- falou.
            - Mas, afinal, foi a ventania forte ou a arte do pequeno que queria voar antes da hora? – perguntou a mãe.
            Ninguém sabia, nem o Sabiá. Só sabiam que ele estava no chão correndo risco. Se continuasse chovendo, afundaria na poça d’água. Se parasse de chover, algum animal grande poderia pegá-lo. A Mãe Coleirinha, debruçada na beirada do ninho, olhava inconsolável o filhote.
            -Só comigo, só comigo acontecem essas coisas. Meu único filho agora periga morrer.
            O filhote continuava no chão, ainda sem saber voar. Os pais não tinham ideia de como trazê-lo de volta ao ninho. E a chuva aumentava mais a poça.
            -Ele vai se afogar? – Se apavorava a Coleirinha.
            -Não sei, mas o Sabiá sabe. Pergunte a ele, sugeriu o Pai.
            O Sabiá não tinha resposta e ainda deu uma bronca no casal.
            - Por que vocês fizeram o ninho no lugar errado?
            -Os pássaros mais velhos ocuparam os melhores pontos. Há poucas árvores nesse mundo. Sabia, sabiá?- respondeu o Coleirinho.
            De repente eles ouviram um barulho assim: Chlap! Chlap! Chlap!
            -Meu Deus! E agora? - perguntou a Coleirinha.
            Era barulho de gente pisando nas poças d’água. Cada vez mais alto e mais perto: Chlap! Chlap! Chlap!
            A pessoa chegou e devagarzinho se aproximou da árvore. Abaixou-se e estendeu uma daquelas asas enormes que as pessoas têm, mas que não servem para voar. Abriu as garras que ficam na pontas das asas e ...CRÉU!
            Pegou o filhote.
            A Mãe Coleirinha desmaiou. O Pai começou a gritar. O pequeno deles agora estava lá, nas garras da pessoa. Mas, ao contrário do que imaginavam, o filhote foi colocado delicadamente no ninho. O Coleirinho não sabia como agradecer. Começou, então, a cantar uma música muito bonita, mas a pessoa foi embora sem entender que aquele canto todo queria dizer obrigado.
            A Saíra - dourada, vizinha que acompanhava todo o drama deu também sua bronca.
            -Este ninho perto da janela é um perigo!
            -Eu não achei lugar melhor- se defendeu a Coleirinha.
            -Qualquer morador que chegue à janela consegue ver seu filhote. Gente pega passarinho!
            -Tem gente boa nessa vida. Olha essa que salvou meu filhotinho.
            -Uma em mil. Uma em mil! Eu sou vítima e sei. Eles adoram trancar meus parentes em gaiolas- disse a Saíra.

Fragmento o primeiro capítulo do livro “A vida perigosa dos passarinhos pequenos” de Míriam Leitão

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